sábado, 5 de dezembro de 2009

Saga Crepúsculo: influência exercida nos jovens

As produções cinematográficas contemporâneas assumem gradativamente o papel de termômetro da geração. Apesar disso, os investimentos em películas voltadas ao publico jovem não é um artifício novo. Desde “Guerra nas Estrelas” (1977), a preocupação de atingir e agradar os adolescentes da época já pedia um olhar mais dedicado. Dos anos 2000 em diante, a febre da década foi as adaptações da história do bruxo inglês, Harry Potter, escrita por J.K. Rowling. Com o passar dos anos, com o sucesso das seqüências cinematográficas, e com a proximidade do fim dessas seqüências, nasceu a preocupação em criar uma nova película que pudesse substituir as aventuras de Harry Potter e obter o mesmo sucesso entre os jovens. Houve tentativas frustradas, como por exemplo, os filmes: “A bússola de ouro” (2007) e “Eragon” (2007). Por outro lado, houve tentativas acertadas, dentre elas, o destaque vai para a história de uma garota americana que se apaixona intensamente por um vampiro.

A história de Isabella Swan, escrita por Stephanie Meyer, teve sua primeira adaptação às telas de cinema em 2008, com o longa-metragem “Crepúsculo”. O filme mostra como Bella (Kristen Stewart) vai morar com o seu pai na pequena e nublada Forks, cidade do interior de Washington. Apesar de sua aparência desajeitada (ou talvez por causa dela mesmo), Bella logo se torna o assunto principal em sua nova escola. É desse jeito um tanto peculiar que ela faz os seus primeiros laços de amizade. Nessa mesma escola, Bella conhece o jovem Edward Cullen (Robert Pattinson), um dos filhos adotivos do médico da pequena Forks. No momento em que ela descobre o que seu amado é realmente, Bella toma conhecimento de um mundo extremamente perigoso.

O clima de romance proibido combinado com emoções perigosas é a chave que atrai os jovens consumidores da saga crepúsculo. A protagonista é construída propositalmente como uma garota frágil, romântica e desastrada; porém cheia de personalidade. São características moldadas para que os fãs se identifiquem com a mocinha da história. Do outro lado, há o vampiro, Edward, mostrado como o sonho de consumo de toda garota: romântico à moda antiga (talvez por ele ter cerca de 100 anos de idade), atraente, sedutor e misterioso. Apesar da direção instável da direção instável de Catherine Hardwicke (que tenta dar ao longa o ar de produção independente, sem muito sucesso), a história é carregada de intertextualidade, que são as responsáveis pelo sucesso do filme. Bella trás consigo traços de outras mocinhas românticas. É evidente a idéia do amor proibido de Julieta, assim como pode ser vista a imagem da Bela que se apaixona inevitavelmente pela Fera, apesar de toda a “conspiração” contra o amor dos dois. Mas não é só a stª Swan que trás esses ecos na personalidade. A imagem do “vampiro cristão” que Catherine tenta atribuir a Edward foi muito melhor representada por Brad Pitt, em “Entrevista com o vampiro” (1994), assim como este personagem tem traços mal formados do Romeu e da Fera, protetores de suas amadas.

O filme que sucede “Crepúsculo” reforça os traços de intertextualidade e consolida a saga entre o público teen. “Lua Nova” (2009), dirigido por Chris Weitz, mostra a época mais dolorosa da vida da protagonista Isabella Swan, quando Edward resolve deixá-la. Weitz segue mantém a mesma linha de pensamento sobre Edward, a do namorado perfeito. A primeira cena em que aparece no filme reforça essa idéia. O modo como o universo da cena gira em torno dele e o close em câmera lenta denuncia a intenção do diretor em torná-lo divino. Weitz fez escolhas mais felizes ao conduzir “Lua Nova” do que Catherine teve com “Crepúsculo”. Ainda assim a película não cresce satisfatoriamente. O que cresce é a forma como as personagens e o enredo são levados ao público alvo. Os efeitos especiais (melhor explorados por Weitz) valorizam ainda mais os pontos de identificação para os jovens.

Os filmes também contextualizam valores antigos, por exemplo, a virgindade da mocinha da trama. Edward quer manter sua amada casta até depois do casamento proposto no final do segundo filme. E o fato dos relacionamentos dos dois ser apresentado sem cenas mais picantes, valoriza o aspecto puro do amor e reforça o ideal de perfeição entre o público alvo. Existe, também, o fato de ser uma história sobre vampiros como um dos motivos de a saga Crepúsculo ser tão popular entre o público jovem. Os filmes possuem traços “sombrios” que são direcionados à parcela dos adolescentes que, no intuito de se expressar, se auto-intitulam “wiccas”, “góticos”, “emos”, dentre outras tribos urbanas.

Todas essas formas de direcionamento têm como aliada a publicidade da mídia. Citando como exemplo: Robert Pattinson é capa da maioria das revistas para meninas em muitos países. No Brasil, a revista Capricho, da Editora Abril, tem dedicado alguns muitos exemplares ao ator de 23 anos, que ganhou o status de galã logo no primeiro longa e serve de modelo para vários rapazes que agora copiam seu corte de cabelo. A mídia vende a imagem dos atores da série através de sites, blogs, divulgação maciça de trailers, cartazes, entre outros. O marketing em torno dos filmes tem a intenção de manter os jovens como seu público alvo, ao mesmo tempo em que quer aliar novos consumidores. A saga exerce um tipo de influência característica de um sistema de consumo que recorre ao lado mais fútil dos jovens para se manter. O espaço em que esse modelo de produção está situado existe e é usado como meio de entreter pessoas, e essa a visão boa que se pode ter de tal proposta, já que a indústria de entretenimento deve manter a sua funcionalidade. Mas a intensidade e a rapidez que esse tipo de cinema obtém resposta do seu público são assustadoras e prova que de fato marca uma geração. Os números de bilheteria comprovam: segundo o site Omelete, em seu primeiro fim de semana em exibição nos Estados Unidos, “Lua Nova” arrecadou 140,70 bilhões, sendo 35 mil dólares por sala. Esse número chegou perto dos números do primeiro fim de semana do filme “Batman – o cavaleiro das trevas”, que foi uma das maiores bilheterias de 2008.

O romance de Bella e Edward talvez seja tão popular por mostrar valores e virtudes para uma geração de adolescentes carentes de personalidade virtuosa. É partindo deste pressuposto que “Crepúsculo” e “Lua Nova” foram feitos, explorando esses valores antigos em seus personagens, para que os jovens possam enxergar esses pontos e percebam algo de real ou, ao menos, semelhante à sua realidade.

5 comentários:

  1. Acredito que a mídia (cultura de massa) nunca teve a intenção de ensinar, principalmente aos jovens, a pensar criticamente. Eu nunca li a saga, mas posso afirmar que a sinopse não me agrada: Parece uma história meia-boca que tenta convencer que vale a pena.

    Concordo no que você diz em relação aos valores que o filme apresenta e que conquista o público alvo dele.
    Mas o que mais me assusta sobre histórias como esta, é que elas infelizmente como você disse, marcam uma geração.

    Já vi comentários de que no futuro talvez, Crepúsculo seja considerado como o "Romeo e Julieta" deste século. Espero que não.

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  2. Interessante observar que você nem ao menos viu o filme. Além do mais acredito que se refiram a história escrita quando dizem que serão os novos Romeu e Julieta.

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  3. Não vi o filme e não pretendo ver, a história não me interessa. Eu prefiro algo mais criativo. Não sou alguém que "odeia" a série até por que nunca li ou assisti.

    E sim, dizem respeito ao livro. E pela história da saga, no geral, espero que não seja comparado no futuro ao Romeu e Julieta de Shakespeare.

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  4. Dizer que Bella e Edward serão os novos Romeo e Julieta é demais rsrs. Tomara que essa informação que você leu seja equivocada!

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  5. Por Elaine.

    Eu já assisti ao filme e li quase todos os livros e sinceramente gosto. Nao me encaixo na classe das crianças, nem dos pré-adolescentes que são loucos por crepúsculo e sua saga, mas a historia, pelo fato de gostar de ficções, me agrada bastante. E acho que para as pessoas que são fãs de Romeo e Julieta, os quais eu tbm gosto, o fato de crepusculo possuir um grande publico, não fará com que Edward e Bella tomem o lugar do eterno casal com amor probido e sim, sejam comparados com os mesmos, afinal tanto o livro quanto o filme, possuem uma linguagem estrategicamente acessivel e direcionada para o público jovem que dá à escritora e todos os participantes para a realização do filme um enorme lucro. Não acho que seja uma questão mais para o social, mas simplesmente economica e de marketing.

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