terça-feira, 22 de junho de 2010

O Professor Muito Gordo



Quando eu ainda estava na Escola, eu tinha um professor de Português gordo, muito gordo. Ele devia ter seus 60 anos, alto, voz aguda, vestia sempre roupas muito compostas, independente da temperatura do dia. E olhe que aqui, até o frio é quente. Usava óculos e não tinha bigode. Por trás desses óculos, um homem de poucos e raros amigos. O semblante triste denunciava isso: Uma solidão cosmopolita em um apartamento perdido pelo centro da cidade.

Sempre pontual e assíduo, o professor ministrava as aulas todas as terças e quintas-feiras. Ninguém prestava muita atenção. Melhor dizendo: ninguém dava qualquer atenção. Era uma aula dada ao nada. Ele falava por horas e horas e todos se mantinham em conversas paralelas. Às vezes, me dava pena e eu fingia que estava prestando atenção para que ele não se sentisse tão só. Porém logo depois me arrependia,pois ele passava a direcionar todo o conteúdo para mim. E assim, eu, consciente da minha crueldade, começava uma conversa paralela com o colega do lado, para que ele deixasse de focar em mim.

Eu, gordo também, apesar do professor, gostava da disciplina e era sempre aprovado com notas boas. Talvez por isso, os colegas me apelidaram de 'Filho do Professor'. Era sempre assim, eu vinha e falavam: "Ei gente, lá vem o filho do Professor". Eu mesmo muito gordo achava um absurdo tal associação, me sentia vítima de bullying e por isso busquei no professor uma outra característica marcante e associei a boca murcha do professor a outro colega, mas a associação nunca obteve sucesso e eu continuava ser"O Filho do Professor".

Anos se passaram, consegui emagrecer alguns quilos, mas adentrei a faculdade de Letras e sempre que encontro alguns ex-colegas, ele relembram a alcunha e se referem a mim, como sendo o 'Filho Do Professor'.

domingo, 20 de junho de 2010

Texto de Charles Chaplin (postado por Lívia)

Esse texto já deve ser bem conhecido por todos, mas resolvi postá-lo, sabe Deus o porquê.
Infelizmente meus acessos à internet têm sido raros, devido a problemas da fonte do meu computador. Queria poder postar mais.
Abraços a todos.

“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando….E termina tudo com um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?”

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mais do mesmo.

"Quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba." (RAMOS, Graciliano. Angústia. 63. Edição. São Paulo: Record, 2008.)
Semana atípica. Mais apática que o normal. A chuva incessante traz a ilusão dos compromissos adiados. Deixei tudo pra depois. Desisto. Noites marcadas pela insônia: sonho o que quero esquecer e acordo para esquecer de sonhar. Tento pensar o mais difícil e busco os apertos de mão dos possíveis aliados, mas, não consigo baixar a guarda totalmente. É preciso ouvir para saber que as palavras machucam. Estou mais egoísta. Quero pensar um pouco nas coisas que me inquietam. A vida está com muito contraste e pouco brilho. E preciso tirar os óculos para conseguir ver através do cinza que se espalha...
"Uma chuvinha renitente açoita as folhas da mangueira que ensombra o fundo do meu quintal, a água empapa o chão, mole como terra de cemitério, qualquer coisa desagradável persegue-me sem se fixar claramente no meu espírito. Sinto-me aborrecido, aperreado." (idem.)
O sofá branco, que outrora lembrava-me a alegria da reunião, encontra-se mascarado de vermelho para testemunhar os gritos sem fundamento e as lágrimas que fogem após um bocejo. Nada não, só um cisco. Passo os dias ouvindo o vento que, ao encontrar com as janelas, uiva e acalenta o corpo já cansado. Falta a pulsação. Percebo que me cai bem ficar sozinha. Começo a ouvir os meus própiros gritos no meio de todo o silêncio. E isso é o que a chuva me traz de melhor.
"Debaixo da chuva azucrinante, espécie de neblina pegajosa, a mangueira do quintal e as roseiras da casa vizinha estão quase invisíveis." (ibidem.)

Sob o olhar imaginário dos ausentes.

"Compadre meu Quelemém, muitos anos depois, me ensinou que todo desejo a gente realizar alcança - se tiver ânimo para cumprir, sete dias seguidos, a energia e paciência forte de só fazer o que dá desgosto, nôjo, gastura e cansaço, e de rejeitar toda qualidade de prazer." Grande Sertão: Veredas*.
Não. Não continuei nada ainda. Continuar é arte que não me pertence. Começar o que quero pressupõe abdicar de gostos, de rostos, de jeitos. Continuar indica uma inclinação para a força. Ser forte. Requer negação. Só mais uma hora, só mais um dia. O primeiro passo: um plano, um desejo, um objetivo. Paro. A incredulidade. A consiência. A realidade. O pessimismo.
Me sobra a vontade de mudar, embutida nela a natureza mimada de quem sempre teve tudo nas mãos e espera uma pílula de resolução de problemas. Triste, mas condiz com a realidade. Desacredito dos sonhos. Desacreditam de mim. Palavras vagas tentam me manter conformada, alienada, perdida.
As coisas seguem à deriva, como sempre.
(20/04/2009).

*Fico devendo a referência de acordo com as normas da ABNT.

Pra não esquecer.

"Mundo é o repertório de nossas possibilidades vitais. Não é, pois, algo à parte e alheio a nossa vida, mas que é sua autêntica periferia. Representa o que podemos ser; portanto, nossa potencialidade vital. Esta tem de se concretizar para realizar-se, ou, dito de outra maneira, chegamos a ser só uma parte mínima do que podemos ser. Daí que nos parece o mundo uma coisa tão enorme, e nós, dentro dele, uma coisa tão pequena. O mundo ou nossa vida possível é sempre mais que nosso destino ou vida efetiva. [...]
A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de que se compõe a vida. A circunstância - as possibilidades - é o que de nossa vida nos é dado e imposto. Isso constitui o que chamamos o mundo. A vida não elege seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora. Nosso mundo é a dimensão de fatalidade que integra nossa vida. Mas esta fatalidade vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a existência como a bala de fuzil, cuja trajetória está absolutamente predeterminada. A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo - o mundo é sempre este, este de agora - consiste em todo o contrário. Em vez de impor-nos uma trajetória, impõe-nos várias e, consequentemente, nos força... a eleger. Surpreendente condição a de nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem um só instante se deixa descansar nossa atividade de decisão. Inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir."

(ORTEGA Y GASSET, José. A Rebelião das Massas. 2. ed. Rio de Janeiro : Livro Ibero-Americano, 1962.)

"E de novo voltou-lhe à cabeça uma ideia que já conhcemeos: a vida humana só acontece uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dado uma segunda, uma terceira ou uma quarta vidas para que possamos comparar decisões diferentes."

(KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Trad. Teresa Carvalho da Fonseca. Rio de Janeiro : Rio Gráfica Ltda., 1986.)


PS: Isso é um convite à leitura dos dois livros citados. Espero que gostem tanto quanto eu estou gostando do primeiro e gostei do segundo. Beijo.

sábado, 5 de junho de 2010

MÁRIO QUINTANA

"Existe somente uma idade para ser feliz ...
somente uma época na vida de cada pessoa em que é possivel sonhar
e fazer planos e ter alegria bastante para realiza-los.
essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE".

Verônica H.

Eu escrevo para mudar o conceito de escrita. Eu escrevo pela falta de conceitos.
Eu não quero escrever por me sentir pequena demais, não tenho razões, tenho impulsos que me levam a gastar canetas no lugar de lágrimas e papel ao invés de sofrimento.
Eu gosto da magia de descrever o que os olhos fogem da obrigação de dizer.
Escrever aproxima do céu.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A mão que escreve, o prazer em ler-te

Essa minha necessidade, latente de passar a limpo
Minhas emoções, registrar meus profundos sentimentos
Essa imensa satisfação que me praz, feito distração, feito diversão,
em êxtase. É poder escrever, escrever e escreve, poder compartilhar
Escritos tão singulares, poder permutuar, em ler estilos diferentes.
Trocas de imprensões fortes extraídas das entranhas das emoções.
Poder publicar, colocar a conceitos, opiniões e julgamentos,
Confesso ser um pouco assustador, principalmente para os iniciantes,
Assim como eu. Em contrapartida é muito mais interessante e gratificante
Podermos colher elogios critica construitvo, ou mesmo criticas ferinas, não importa.
Somos o que pensamos, por conseguinte o que escrevemos.
E aqui o publicamos cientes que os comentários não são migalhas da autoarfimação
São incentivoa que nos incita nos impulsiona, enquanto amadores, entusiastas, ou 
mesmo profissionais do poetificar.
Faço-me registro no que escrevo e publico mesmo que virtual, como atitude de
liberdade
De mim para mim, como doação, generosidade, nessa imensa satisfação dessa troca
de escrever-te e ler-te.

Lufague.  


Postado por Daniela Moreira


O Leitor, Leitura na Intimidade e diferentes formas de Ler

Por Daniela Moreira

A escrita e a leitura sempre forão e continiaurão sendo algo indispensável na vida de uma sociedade, independente de época e de grupos sociais. O hábito de ler aguça o censo crítico do leitor e o torna mais criativo, dar-lhe outro modo vida, outra maneira de ver o mundo. No filme "O Leitor", podemos assistir à história de uma mulher que tem sua vida transformada, também, pelo fato de ler. A personagem Hanna apaixona-se por um rapaz bem mais jovem, um estudante com idade de ser filho. Em seus encontros amorosos, Michael leva livros e lê para ela. Essa prática de ler para alguém, nos leva a refletir sobre o texto "Diferentes Formas de Ler", de Márcia Abreu, aonde podemos observar que do séc. IV d.C ao séc. XIV, ler em voz alta era regra. Lia-se em voz alta, nos mais variados ambientes, a exemplo de salões, cafés, casas etc. Nessa época, esse tipo de leitura era visto como meio de socialização e entretenimento. Ler em silêncio não era uma prática vista com bons olhos naquele contexto. 
No filme, notamos, também, os locais escolhidos pelo casal para desfrutarem da leitura: praticamente em todos os cômodos da casa de Hanna. Partindo desse ponto, podemos fazer uma ponte com  "Leitura na Intimidade", texto de Alberto Manguel (1987), o qual fala sobre o(s) lugar(es) onde se prática a leitura, bem como da posição e das formas de se ler. Hanna e Michael liam muito na cama e no texto o autor fala sobre esse ato
     
Mas há algo mais do que entretenimento no ato de ler na cama: uma qualidade especial de privacidade ler na cama é um autocentrado, imóvel livre das convenções sociais comuns, invisíveis ao mundo, e algo que, por acontecer entre lençóis, no reino da luxúria e da ociosidade pecaminosa, tem algo da emoção das coisas proibidas. ( MANGUEL, 1987, p. 180).                      
               
Em meio a tantos livros que Michael lê para Hanna, seu preferido é "A Odisséia de Homero, um clássico da literatura. A questão da leitura de romances é, também, bordada no texto "Diferentes Formas de Ler". Enquanto estimulamos à leitura de romances, no séc. XIX, essa prática era vista como perigosa para moral, especialmente de mulheres e moças, pois acreditava-se que a leitura tinha um grande poder de determinação no comportamento das pessoas. Por conta disso, na França, houve aprovações de Leis que proibiam a criação e a edição de romances. De fato, a leitura influência e muito a conduta de um leitor, podendo, até mesmo mudar sua opinião em relação a determinado assunto. No caso de Hanna, teve sua vida transformada, também, pela falta de leitura. Sentia-se envergonhada por não saber ler, e por isso, não aceitou a promoção no seu emprego. Sendo assim, foi trabalhar na SS, polícia nazista, e foi julgada por atrocidades cometidas contra as judias de quem tomava conta. De certa forma, ela se sente mais envergonhada por não saber ler, do que por ter participado do holocausto. Hanna tem sua opinião diferenciada das outras rés, contudo, poderia ter tido uma pena similar à das outras condenadas, pois ela não agiu sozinha, porém o constrangimento, de repente até o medo de revelar, diante de uma sociedade "letrada" o analfabetismo, o fato de ser "ignorante", juntamente com o seu comportamento em relação as judias contribuíram para o fim da personagem, que, depois de muito tempo, aprende, praticamente sozinha a ler na prisão, mais, foi um pouco tarde. a falta de leitura, realmente, fez muita falta na vida de Hanna. Infelizmente, ainda, existem centenas de pessoas no Brasil, que não sabem ler, mas reconhecem a importância da leitura. Outras, que sabem, mas não se interessam muito por tal. O hábito de ler influência e transforma a realidade de uma pessoa.