terça-feira, 8 de junho de 2010

Pra não esquecer.

"Mundo é o repertório de nossas possibilidades vitais. Não é, pois, algo à parte e alheio a nossa vida, mas que é sua autêntica periferia. Representa o que podemos ser; portanto, nossa potencialidade vital. Esta tem de se concretizar para realizar-se, ou, dito de outra maneira, chegamos a ser só uma parte mínima do que podemos ser. Daí que nos parece o mundo uma coisa tão enorme, e nós, dentro dele, uma coisa tão pequena. O mundo ou nossa vida possível é sempre mais que nosso destino ou vida efetiva. [...]
A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de que se compõe a vida. A circunstância - as possibilidades - é o que de nossa vida nos é dado e imposto. Isso constitui o que chamamos o mundo. A vida não elege seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora. Nosso mundo é a dimensão de fatalidade que integra nossa vida. Mas esta fatalidade vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a existência como a bala de fuzil, cuja trajetória está absolutamente predeterminada. A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo - o mundo é sempre este, este de agora - consiste em todo o contrário. Em vez de impor-nos uma trajetória, impõe-nos várias e, consequentemente, nos força... a eleger. Surpreendente condição a de nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem um só instante se deixa descansar nossa atividade de decisão. Inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir."

(ORTEGA Y GASSET, José. A Rebelião das Massas. 2. ed. Rio de Janeiro : Livro Ibero-Americano, 1962.)

"E de novo voltou-lhe à cabeça uma ideia que já conhcemeos: a vida humana só acontece uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dado uma segunda, uma terceira ou uma quarta vidas para que possamos comparar decisões diferentes."

(KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Trad. Teresa Carvalho da Fonseca. Rio de Janeiro : Rio Gráfica Ltda., 1986.)


PS: Isso é um convite à leitura dos dois livros citados. Espero que gostem tanto quanto eu estou gostando do primeiro e gostei do segundo. Beijo.

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